Uma medida cautelar impedindo a Empresa Cuiabana de Saúde Pública de gerenciar o novo Pronto Socorro de Cuiabá foi emitida pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) no final da tarde dessa quinta-feira (13-12). Com a decisão, a Prefeitura de Cuiabá fica imediatamente proibida de transferir a gestão do novo PS à Empresa Cuiabana, cuja entrega estava prevista para o próximo dia 28.
Conforme a conselheira interina do TCE, Jaqueline Jacobsen, quem proferiu a medida, “há indícios de que essa transferência desencadeará uma gestão antieconômica e fraudulenta, capaz de originar danos irreparáveis ao erário, inclusive com graves prejuízos à qualidade dos serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) à população cuiabana”.
Para formular seu convencimento, a conselheira tomou como base o relatório da equipe técnica do TCE, bem como as investigações realizadas pela Delegacia Especializada em Crimes Fazendários (Defaz), no último dia 04, em parceria com o Ministério Público (Estadual e Federal) junto à Empresa Cuiabana, por meio da “Operação Sangria”. Os mesmos objetos de investigações apontados na “Sangria”, também foram denunciadas e apuradas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde, concluída em novembro passado.
JOGO DE INTERESSES
A probabilidade de lesão aos cofres públicos ocorre em função da atuação promovida pelo então secretário municipal de Saúde, Huark Douglas Correia, que estaria agindo por interesses privados nas atividades da Empresa Cuiabana, em função das contratações e repasses de valores em benefício de empresas privadas gerenciadas por ele, como a Proclin e a Qualycare.
De acordo com o Ministério Público Federal, o ex-secretário municipal de Saúde seria um dos proprietários de fato da empresa Proclin e sócio participante/oculto da Qualycare Serviços de Saúde e Atendimento Domiciliar Ltda. Huark Douglas Correia teria, inclusive, representado a Proclin na inauguração das novas alas de UTI do Hospital São Lucas, em Lucas do Rio Verde, em 25/10/2017.
“Especificamente sobre essa constatação acerca da representatividade da Proclin, a Equipe Técnica chamou a atenção para a informação pertinente à existência de uma procuração pública datada em 16/03/2015, com validade de 5 anos, outorgada por outro sócio da empresa, Luciano Correia Ribeiro, conferindo poderes típicos de sócio a Huark Douglas Correia, em especial, para administrar as contas bancárias indicadas para recebimento da remuneração pelos serviços prestados na execução dos Contratos 04/2016 e 014/2016 firmados com a Empresa Cuiabana de Saúde Pública”, revela trecho da decisão cautelar da conselheira.
LINHA DO TEMPO
Nomeado entre os anos de 2015 e 2017 para o cargo de diretor técnico da Empresa Cuiabana de Saúde (09/01/2015) e, de modo consecutivo para o cargo de diretor geral da empresa (17/04/2017), Huark Douglas Correia coordenou certames que culminaram na contratação da Proclin e da Qualycare.
Na sequência, em 14 de março de 2018, ele foi nomeado para exercer o cargo em comissão de Direção e Assessoramento Superior de Secretário na Secretaria Municipal de Saúde e presidente do Conselho Municipal de Saúde. Nesse período, de 2016 a 2018, a Empresa Cuiabana de Saúde Pública repassou para a Proclin o equivalente a R$ 12.879.190,05. À Qualycare foi repassado R$ 1.808.798,55. Somente no dia 17/11/2017, ele autorizou transferências bancárias pela Empresa Cuiabana de Saúde Pública, na ordem de R$ 223.008,80 e R$ 404.575,85, em benefício da Proclin.
IRREGULARIDADES
Para conceder a cautelar, a conselheira enumera diversas razões, como ausência de respaldo do Plano de Trabalho/Operativo, da definição dos critérios de avaliação e desempenho desse gerenciamento, dos estudos técnicos e jurídicos pertinentes à demonstração da economicidade/eficiência do modelo projetado para implantação, da análise do impacto orçamentário-financeiro e das pesquisas para prognosticar o emprego da força de trabalho no local, em inobservância ao ordenamento jurídico vigente.
A conselheira cita também irregularidades relacionadas à Empresa Cuiabana de Saúde Pública, gestora do Hospital São Benedito, que resultaram na deflagração da “Operação Sangria” pela Polícia Civil e que o ex-secretário Huark Douglas Correia pertence ao rol dos alvos da referida operação.
Destaca ainda a verificação da baixa eficiência da Empresa Cuiabana de Saúde Pública na gestão do Hospital São Benedito, citando, como exemplo, a aquisição de equipamentos para a sala de Hemodinâmica, em dezembro de 2016, que permanece inoperante até hoje, em prejuízo aos pacientes que aguardam por esses serviços.
À CONTRA GOSTO
Mesmo com 20 ressalvas feitas pela Comissão de Controle e Avaliação do Conselho Municipal de Saúde, por meio do Parecer 009/2018 para a realização da transferência, a inclusão do gerenciamento do novo Pronto Socorro de Cuiabá à Empresa Cuiabana de Saúde Pública, responsável pela gestão do Hospital São Benedito, foi aprovada pelo Conselho Municipal de Saúde no dia 30 de novembro de 2018.